quarta-feira, 20 de maio de 2009

como nós..


O golem é um monstro da mitologia judaica medieval, um homem feito de argila que ganha vida quando se escreve na testa dele as letras hebraicas que formam a palavra emet, “verdade”. O golem pode servir como seu escravo, mas quando começa a incomodar, a crescer incontrolavelmente ou a matar todo mundo no seu caminho, a única forma de parar o bicho é apagar a primeira letra da testa dele, transformando emet (verdade) em met (morte). Sem a verdade para animá-lo, o golem volta a ser um amontoado de terra sem vida.

Como nós.

Veja maior.



quinta-feira, 14 de maio de 2009

A infecção humana

A auto-identidade é no fim das contas um sintoma de invasão parasítica, a expressão dentro de mim de forças que originam-se no meu exterior. A linguagem é para o cérebro o que a tênia é para os intestinos. Não só isso: pode ser possível encontrar um espaço digestivo livre da infecção parasítica, mas jamais encontraremos um espaço mental que não esteja contaminado [pela linguagem]. Espirais de DNA alienígena distendem-se dentro de nossos cérebros da mesma forma que as tênias estendem-se ao longo de nossos intestinos. Não apenas a linguagem, mas a qualidade completa da consciência humana, como expressa em homens e mulheres, é basicamente um mecanismo virótico.

William S. Burroughs, Cities of the Red Night (1981)

Quero compartilhar uma observação que tive durante minha estada aqui. Ocorreu-me quando tentava classificar a espécie de vocês e percebi que não são na verdade mamíferos. Todo mamífero neste planeta desenvolve instintivamente um equilíbrio natural com o ambiente que o cerca, mas não vocês, humanos. Quando se transferem para determinada região o que vocês fazem é multiplicar-se sem cessar até que todo recurso natural seja consumido, e o único meio que têm de sobreviver é alastrando-se para outra região. Há apenas outro organismo neste planeta que segue o mesmo padrão: um vírus. Os seres humanos são uma doença, um câncer neste planeta. Vocês são a praga. Nós somos a cura.

Agente Smith, Matrix (1999)

Infelizmente, diz Lovelock, Gaia está em apuros: acontece de estar infectada por um vírus chamado Homo sapiens. Os seres humanos estão destruindo ecossistemas, exterminando milhares de espécies e desestabilizando os climas. “Tornamo-nos a infecção da terra em algum passado longínquo e indeterminado, mas foi só há 200 anos que teve início a Revolução Industrial: nesse ponto a infecção da Terra tornou-se irreversível”, afirma ele.

Lovelock chama essa doença de poliantroponomia, condição na qual os seres humanos são tão numerosos que acabam fazendo mais mal do que bem. Projetos de energia renovável, a redução das emissões de carbono e a promoção do desenvolvimento sustentável, bem como outras idéias verdes, nada mais são do que a dissimulação de “animais tribais acenando bravamente seus símbolos contra a ameaça de uma força inelutável”.

Robin McKie, em resenha de The Vanishing Face of Gaia (2009), de James L. Lovelock

* * *

Originalmente no sempre lúcido, sempre provocador The Teeming Brain, pilotado por Matt Cardin


Fonte: A Bacia das Almas - onde as idéias não descansam.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

nem tarde nem cedo

Uma das coisas que me salvou durante esta semana foi a seguinte imagem:

Entre tantas pressões externas e internas, é difícil descobrir, conhecer e respeitar o próprio tempo. E, neste tempo específico, difícil também é encontrar-se quem se é.

Como impressionista que sou, fiquei feliz ao ver que Van Gogh, o “cara” do movimento, começou aos 27. Sinal que ainda estou dentro do “prazo de validade”.

Outra hora eu explico melhor tudo isso. Espero simplesmente que, assim como foi para mim, a imagem sirva de alento a outros que por ventura ou desventura ainda estejam por começar.

Mas sem cortar a orelha, tá?

Camila Hochmüller, no blog Metamorfoseantemente.

Leia +

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Globo, a gente não vê por aqui.

Como todos sabem a nova novela da Globo é O CLONE Caminho das Índias, uma novela sem nenhuma criatividade, igual a várias outras que ja vimos aonde o casal principal se ama, se adora, dai se separa por forças maiores, se odeiam, se reencontram, se amam, e acabam juntos em um belo casório com os casais secundários tudo esperando bebê. Pronto, ja contei o final prontofaleijáfoi. Desculpe. Por ser temática, na Índia (apesar de todo mundo falar portugues, nunca entendo isso) alguns pontos turisticos do país são explorados para darem cenas bonitas e paisagens misteriosas..

Um desses pontos é o rio Ganges. Para quem não sabe, esse é o rio Ganges, sagrado para os hindus.

Nesse rio os hindus tomam banho, fazem rituais, lavam os rostos, as roupas e…. e…….. soltam os corpos dos mortos sendo cremados em cima de balsas de madeira. Os de “castas inferiores” não podem comprar muita madeira então o corpo não é totalmente cremado, sobrando os restos mortais, os mais afortunados compram mais madeira e o corpo queima até virar cinza. As vacas sao consideradas santas também e são muito respeitadas e, quando morrem, também são jogadas no rio.

A rede Globo, óbviamente NUNCA que vai mostrar o lugar como realmente ele é pois é algo chocante, eu vi as fotos e algumas são bem nojentas.. outras pessoas viram do meu lado 2 fotos e nem quiseram ver o resto.. maaaaaaaaaaaaaaaas como o mundo é maravilhoso e belo aos olhos de Marcio Garcia e Juliana Paes, o Projac foi adaptado para que um falso rio Ganges pudesse ser filmado. Como? Eles fizeram uma escadaria, uma pscina e um Chroma Key ao fundo que o computador coloca efeitos de céu e afins..
Eu não assisti a novela nenhuma vez ainda, mas pelo que eu li nos blogs por ai esse efeito ficou BEM tosco.

para ver todo o texto e as fotos comparativas, clique aqui!

sábado, 9 de maio de 2009

chiqueiro nacional


Aproximadamente uma da tarde. Medindo meu prato de comida pelo já referido motivo, tenho o cuidado de não pegar os pedaços de linguiça no macarrão. Não posso ingerir carne de porco devido a um tratamento médico. Frito o bife, sento a comer, ouvindo um noticiário no rádio. E eis que ouço pela primeira vez o que seria o mais novo mantra das comunicações jornalísticas: Gripe Suína!

Casos no México, EUA... A Europa, depois da peste negra, talvez se veja diante da peste rosada. E no Brasil também apareceram os casos. E o alarde é palpável. O rosto dos âncoras nos jornais de todo país é deprimente, envolvente, apocalíptico. Técnicas de proteção, máscaras de hospital, máscaras "bico de pato". Até remédio já foi criado. Não sei como ainda não apareceu uma ONG do tipo Todos Contra a Suína (para a felicidade dos corintianos)

E o fato é que, comparado com outras doenças, que realmente foram devastadoras, essa gripe suína é nada. O Apocalipse quase foi antecipado por causa de um catarro de porco mexicano. Palavra de especialistas que, essa gripe mata, não porque seja um tipo especial e destrutivo de gripe, mas porque é uma gripe. Quem morre por causa dela é porque já estava debilitado, e com a gripe, seu quadro foi agravado. Palavra de especialistas.

Mas o fato que quero chamar atenção não tem nada a ver com porcos, catarro nem burritos... E os cartões corporativos, pararam? E as passagens de avião para os políticos? E a mansão do senhor Edmar Moreira? Enfim, percebem? Sempre que aparece um escândalo político, quando se acendem as luzes no quarto escuro de Brasília e se mostram as baratas, morcegos e vermes escondidos [nem tanto ...] rápido rápido aparece um João Hélio sendo arrastado... Uma Isabela Nardoni sendo jogada do prédio... Agora esse maldito porco que fez o favor de espirrar no sombreiro d'um infeliz... E lá se vão semanas falando, e se mobilizando, e falando, e fazendo enquetes no nosso site, e falando, e fazendo o bingo de novos infectados (14... 30 na Europa... opa, mais um nos EUA... olha, 5 no Peru). E aí, a gente esquece. Como os próprios jornalistas parecem agir em todos os noticiários: [cara fechada, quase se sente a compaixão] enchentes no nordeste, famílias desabrigadas pela chuva, a situação é calamitosa [subitamente, um sorriso sereno e dentado] agora futebol... "brasileiro tem memória curta" e pela facilidade de se distrair, talvez deficit de atenção também.

Povo brasileiro, povo lindo tupiniquim, não temam os porcos resfriados, antes, repudiem os fartos e saudáveis suínos que povoam e gozam a bacanal livremente [e com nosso consenso] nas câmaras de nosso Congresso Nacional.

Lembrai. Cobrai. Sejais povo, não massa. Sejais livres, não enganados.

L'amore non si conclude mai

Conversas sobre política (2)


não me recordo de nenhuma obra que Ghandi tenha inaugurado. Mas me lembro bem de outros gestos seus. Como uma longa caminhada que fez rumo ao mar quando tinha 61 anos de idade. Mais de quatrocentos quilômetros, 24 dias, 18 quilômetros por dia. Para quê? A inglaterra, potência colonial dominadora, proibia que os indianos possuíssem qualquer sal que não lhes estivesse sido vendido pelo monopólio governamental inglês. Ghandi Resolveu caminhar até o mar para ali transgredir a vontade dos dominadores: tomar nas mãos o sal que o mar e o sol haviam depositado nas rochas. Gesto mínimo, fraco, que não seria marcado por nenhuma fita cortada nem por nenhuma placa de bronze. Há situações em que a quebra da lei é a única forma de ser íntegro. Bem que podia ter ido em lombo de animal ou em vagão de trem. Seria mais rápido, mais cômodo. os políticos que se prezam tem horror a lentidão. Por isso se concedem atributos divinos de onipresença: agora estão aqui mas num abrir e fechar de olhos estão ali. Voam pelos espaços para se fazer ver e inaugurar... Ghandi pensava diferente, sabia que a vida cresce devagar.

Não queria inaugurar coisa alguma. Queria gerar um povo. E isso leva tempo, como uma gravidez. Era preciso que a caminhada demorasse, para que as pessoas caminhassem com ele e, com ele, sonhassem. E enquanto ele ia, crescia, na alma do seu povo, o sonho...

[...]

Pensei então que há dois tipos de políticos:
  • Os que se oferecem aos olhos do povo;
  • e os que oferecem novos olhos ao povo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Conversas sobre política


"A política, dentre todas as vocações, é a mais nobre. A política, dentretodas as profissões, é a mais vil."

"... a grande lição da democracia: é preferível cocô de rato a bosta de elefante"

"Foi por isso, por querer tranquilidade, que me decidi a não mais ler jornais. Dose matutina de veneno, eles só faziam me agitar, agitação que permsanecia o dia inteiro. O que me pertubava era a minha impotência: nada havia que eu pudesse fazer. Minhas palavras seriam inúteis, ninguém as ouviria. Pois quem prestaria atenção à voz de um poeta quando todos gritam?"

Rubem Alves