segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tudo é muita vaidade.

Sim, faz muito tempo. E já tinha dúvidas em voltar a escrever aqui.

Porém o que me tirou da inércia não foi nada de boa índole. Pelo menos não a primeira vista.

Sinto que escrever esta noite foi questão de vida ou morte. Cada dia mais se agrava esses sentimentos dentro de mim por motivos que ainda desconheço pois nem se quer consigo discernir o que está aqui dentro.

Faz pouco mais de um ano e meio que entrei para a faculdade de Direito. E menos tempo faz que comecei a entender antigos e contemporâneos sábios quando dizem que este nosso mundo está impregnado de vaidades. Não posso comparar-me a eles em quantidade de conhecimento, muito menos em experiência, entretanto não me privo de me identificar com os mesmos.

Quem está próximo de mim já me ouviu tagarelando pelo menos mais de uma vez sobre minhas "crises" [nomeadas assim por eles] com o Direito, que - agora percebo -  não passam de decepções.

Não, não tive prática jurídica de nenhum tipo para ter aquela confrontação entre a teoria aprendida na faculdade e a realidade cruel, você argumentaria. E eu replico perguntando: e preciso disso para me decepcionar?

Basta estar um pouco inserido nos acontecimentos, na realidade para perceber que o paradoxo, além de grande, complexo, organizado, é bancado por quem detém o poder. Não sejamos inocentes, eles detêm o poder sim. Não há colaboração popular, nosso "poder" está limitado a escolher quem vai mandar em nós. E mesmo que chegemos ao poder, seremos nós com ele e uma maioria sem ele, nos obedecendo.

Mas qual o motivo da minha decepção, do mal-estar que me toma o estômago, das noites de sono difícil e das manhãs em que abrir os olhos era o único esforço que eu gostaria de ter, mas que ao mesmo tempo tive a avassaladora vontade de me ver livre de tudo isso que está a minha volta?

Hoje acredito que uma fagulha de entendimento me veio. Acredito ser um sentimento igual ao de Salomão quando este resolveu escrever sobre a vida, suas observações e avaliações sobre o que observava. E a estas anotações os brasileiros chamaram "O Livro de Eclesiastes", para quem interesse saber.

Porém hoje, creio, a situação está potencializada. As contradições, a futilidade, e acima de tudo a vaidade, tomaram proporções insuportáveis. Insuportáveis. por isso no título, parafraseando a célebre frase do Sábio (vaidade das vaidades, tudo é vaidade), resolvi acentuar a mesma com "tudo é muita vaidade".


Sou só eu, ou você também percebe que todas as contradições estão aí, todos já sabem delas, mas ninguém continua a fazer nada? E acredito que realmente não o podem. Essa parece ser uma vil regra: quem tem um poder-fazer na mão, geralmente não o usa, maquia tudo ou com fazeres não "fazedores" (leia-se política em geral) ou com belos, complicados e enfadonhos sistemas de raciocínio, livros, livros livros e mais livros (leia-se eruditos, doutos em geral) e quem chega a uma condição de poder-fazer, geralmente só lá está por submissão a regra de quem lá já está, e está porque está, de não-fazer. Criam-se leis, teorias são formuladas, tratados assinados, "mentes são abertas", revoluções são instauradas, coisas muito importantes são tão heroicamente feitas... E NADA!


Como Arnaldo Jabor uma vez disse, essa é uma época terrível, nos anos da ditadura militar, por exemplo, lutava-se para que a verdade fosse veiculada, os corruptos denunciados, esquemas deflagrados, etc. ... hoje, isso acontece, e ainda assim, nada continua sendo feito! Antes o problema era que a verdade não era conhecida, hoje, ela foi conhecida [eu sei que não toda, é claro que não toda... cala a boca!] e não adiantou nada! [até porque, o que temos basta.]


Aí me deparo, hoje, cursando um curso superior que é a queridinha de toda a erudição mundial: o direito. Convivendo diariamente com pessoas que [em maior ou menor grau] estão impregnadas, embebidas, enfeitiçadas por vaidade. Não me refiro a vaidade no sentido que geralmente ouvimos, de beleza, embelezamento, mas de vaidade existencial, de futilidade de pensamento, de essência oca. E não se assuste com palavras fortes. São palavras. São pessoas que escrevem um livro, gastam horas e neurônios, perdem noites e mais noites de sono e sexo em prol de produzir um manual que explicará uma gama de instruções para que outros façam o trabalho que eles já faziam, só que agora podendo pensar em mudar um detalhe de seu procedimento de trabalho burocrático do dia-a-dia. Coisas como parar de chamar Executivo, Legislativo e Judiciário de "poderes" do Estado para chamar de "funções" do Estado. Ou acrescentar ou suprimir um princípio ao Direito Administrativo. Ou até acrescentar um direito à Constituição, e nesse ponto, só pra esclarecer quem pense que isso é algo importante, ninguém que tenha o "poder-fazer" fará ou deixará de fazer algo por este algo estar na Constituição. E também não é totalmente importante pensar em meios para assegurar garantias à Constituição, pois no final, só respeita uma lei quem tem consciência de que aquela lei deve ser cumprida. E isso, lei alguma criará [a consciência]. 


E a vaidade toda disso tudo que falei consiste no fato de que essas pessoas realmente acreditam e proclamam que estão contribuindo para a melhora da sociedade global. E além disso, se portam e exigem um tratamento como se realmente isso estivessem fazendo. E pior ainda: (quase) todo mundo acredita!


E esse é o ciclo de coisas fúteis, que chamam de mundo, onde eu vivo. E vou vivendo. Aqui, onde as coisas não vão mudar e ainda vão piorar. Onde quem tem um poder de influência maior, e quem influencia influenciadores, os eruditos, os "chefões" não produzem nada, nada além de morte. Morte. Anti-vida. É o que sinto ouvindo tanta vaidade: morte. Mal-estar.


Bem, não sei como terminar. Não tenho saída pra isso, nem pra mim. Porque para isso não há salvação. Ou há a renúncia de toda essa futilidade, de toda esta merda, ou o prosseguir morrendo.


E nele estava a vida, e a vida é a luz dos homens, e nós o rejeitamos. Parafraseando João 1.4-12