quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Demo-cracia.

A idéia de que pessoas destreinadas possam com algum grau de acerto compreender a menor coisa que seja sobre a prática da administração civil da máquina de uma civilização economicamente complexa, que envolve os mais intricados problemas de engenharia, é tão grotesca e absurda que apenas o costume cego baseado na tradicional e inefável estupidez do grupo pode levar, concebivelmente, um adulto sóbrio a abraçá-la seriamente neste nosso desiludido ano de 1932.
A democracia – como distinta de oportunidade e bom tratamento universais – é hoje uma falácia e uma impossibilidade tão grandes que qualquer tentativa séria de aplicá-la não deve ser considerada como outra coisa que não gracejo e pilhéria.
Em tempos mais primitivos o cidadão médio era mais ou menos capaz de compreender a natureza dos problemas governamentais ao redor de si – compreender, quer dizer, quais medidas imediatas trariam a longo prazo a realização dos seus desejos, e quais passos práticos seriam, através de uma cadeia relativamente simples de causa e efeito, capazes de garantir a adoção bem-sucedida e a manutenção dessas medidas.
No complexo mundo contemporâneo nenhuma compreensão semelhante é possível. Debaixo do altamente tecnicalizado governo que qualquer grande nação industrial deve ter, o cidadão moderadamente informado e inteligente não possui mais do que uma debilíssima idéia do que representam os mais simples princípios políticos, ao mesmo tempo em que não tem a mais remota chance de apreender o que for dos mais avançados e intrincados problemas de política e administração.
Isso se aplica, além disso, não apenas ao homem simples e não-instruído, mas a todos os leigos e profissionais liberais, quer sejam lavradores ou professores de sânscrito, varredores de rua ou escultores. Que uma pessoa assim mal-informada lance votos que determinem medidas nacionais, ou mesmo imaginar-se que possa conceber o que representa a maior parte dessas medidas, é objeto de incontrolável riso cósmico. Que tais pessoas possam ser eligíveis a cargo administrativo é noção que levaria Tsathoggua e Yog-Shothoth a partirem-se em incontrolável hilaridade.
O governo “pelo voto popular” quer dizer apenas a nomeação de homens dubiamente qualificados por dubiamente autorizadas e raramente competentes agremiações de políticos profissionais que representam interesses ocultos, seguida por uma insolente farsa de persuasão emocional na qual os oradores com as línguas mais falastronas e as frases de efeito mais baratas arrebanham para o seu lado uma maioria numérica de tolos e simplórios cegamente impressionáveis que não tem em sua maioria a mínima idéia do que representa o circo todo.
H. P. Lovecraft, em carta de 7 de novembro de 1932 a Robert E. Howard
Publicado originalmente a 18 de abril de 2006

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O que vale mais?

Esse vídeo é antigo, mas pra quem não viu, veja pois vale a pena.

É possível sentir a tensão no ar.



É, cada um garantiu o seu.

Sem ser politicamente correto.

Acho bom ver alguém que tem um cargo cuja atribuição é representar o povo de seu Estado não sendo só uma voz de concordância com Governos ineficientes, emburrecedores e corruptos.

Começo a repensar a premissa cravada no senso comum: "para estar lá (na política) tem que concordar com as coisas que acontecem lá". Ou qualquer coisa nesse sentido.

Mesmo que um voto contra não vença uma massa comprada, é bom ver alguém que preserva a alma das transações com o erro.

Marcelo Freixo falando sobre a violência e as operações do Governo do Rio nos recentes incidentes na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão:



"eu particularmente não acho que uma sociedade que precisa de muita política rua seja uma sociedade segura"

"não é hora pro Governo tentar fazer propaganda das suas atitudes diferenciando-se de Governos que eles fizeram parte no passado"

PS: Confesso que gostei de ver a repórter ter respostas inesperadas para as perguntas!