Celestino e Otto
Celestino - Na moral, você acredita mesmo naqueles papos de fim de namoro?
- Que tipo de papo?
- Aqueles básicos: "você merece alguém melhor..."; "foi bom enquanto durou"; "seja feliz"
- Porque não acreditaria?
- É mó papo furado! Pra mim é só desencargo de consciência.
- Mas Celestino, é normal. Se você termina com a sua namorada, voce vai querer que ela se ferre só por que não está com voce?
- Claro que não. É que dizer esse tipo de coisa não expressa o que realmente é a verdade. Poxa, se eu amo a pessoa, e ao terminar mando essa de "seja feliz" o que está implícito? Seja feliz com outra pessoa...
- Bom, isso é verdade.
- São só um monte de clichês, que as pessoas aprendem vendo esses programinhas de TV.
- Mas cara, se vc está terminando, é porque você não ama mais aquela pessoa.
- Nem sempre, e você sabe disso.
- [silêncio reflexivo]
- O lance, Otto, é que as pessoas têm medo de se expor. Medo de admitir que fizeram uma burrada. De confessar que em nada há certeza nessa decisão, e que se fosse possível tentaria de novo.
- Mas as vezes é necessário.
- Sim, a questão não é sobre o terminar ou não um namoro. É a forma como se faz.
- Mas eu quero que ela seja feliz, acho que ela merece alguém melhor mesmo e, cara, foi realmente bom enquanto durou.
- Me desculpe, as vezes me pego por demais arcaico em meus conceitos, contudo não penso que seja correta essa última afirmação.
- Como não? Não tem como vc saber, foi ótimo. Nós nos divertimos, nos amamos, rimos, assistimos a uns filmes esquizitos... ela até arrotou na minha frente! [risos]
- [Cara de: completa a frase]
- O problema é que não durou né?
- [suspiro dolorido]
- Desculpa cara, não queria te magoar.
- Não me magoou. Eu precisava mesmo expor o que sentia.
- É que nós, todos nós somos carentes de afeto, carinho. Enquanto muito poucos tem a coragem de admitir isso, sem se embrenhar para o extremo, que se transforma em manipulação emocional. São os extremos né...
- Então como voce terminaria um namoro?
- Eu tentaria ser sincero. Sabe, até me dói pensar essas coisas. Existem pessoas que terminam o namoro, outras que "são terminadas"...
- Embora, sempre a gente ouça assim: "nós" terminamos.
- Pois é. Percebe como é profundo nosso orgulho próprio?
...
Otto, não me entenda mal. Eu sei que esse tipo de coisa acontece. Mas sou levado a pensar que quem adota esse tipo de postura diante de situações de perda, faz isso para, de alguma forma, amenizar a situação. Para tirar aquele peso de: poxa, terminei com o fulano; ou: caraca, fulano terminou comigo. Um para se livrar da culpa, outro da vergonha.
- Mas isso é normal à qualquer ser humano. Quem vai querer admitir essas coisas?
- Bom, essa é uma mentira que eu acreditei por muito tempo, a de que perdas são equivalentes a derrotas.
- E não são?
- Nem sempre.
- Mas sempre dói. E muito.
- A vida é pra ser vivida. Os seus bons e maus momentos. Uma vida sem ventos contrários está fadada à inércia. Viver bem é rir e chorar com a mesma paixão. Sem medo de ser triste.
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