segunda-feira, 26 de abril de 2010

Marchinha n° 1

Lá vem você me dizendo adeus
Chorando a dor que essa vida traz
Levando as cores do dia, a minha alegria,
Deixando gris pesar
Lá vem você me beijando, me assegurando
Que eu vou viver em paz

Lá vem o hoje nos separar,
Já que o amanhã gosta de tardar
Te escrevo e peço que voltes logo
Sarar meu palpitar já sem furor
Lá vem você me beijando,
Me esquecendo das noites sem luar

Enquanto faço-te essa canção
Que é pro meu coração não chorar em vão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A institucionalização da inveja


Antes de começarmos a analisar a saída cristã para o capitalismo, vale à pena explorar os modos através dos quais o capitalismo domina nossa vida comum, a fim de não nutrirmos a ilusão de que estamos saindo dele quando na verdade não estamos.
O disciplinamento do desejo e da imaginação
Como observado acima, uma das características distintivas do fascismo é que ele opera como movimento de massa, dentro do qual a maioria busca ativamente a sua própria repressão e deseja as próprias coisas pelas quais é dominada e explorada. Esta é uma descrição muito acurada do estado de coisas produzido pelo neoliberalismo.
Mas como pode ser isso? No ocidente onde nasceu o neoliberalismo de modo geral não opera através do uso de violência, de ameaça ou força coerciva (embora violência, ameaça e força coerciva façam parte integral da globalização do neoliberalismo). Então o que leva tantos a escolherem livremente a sua própria repressão? Essa busca da maioria pela própria repressão é melhor explicada pelos modos através dos quais o neoliberalismo, em vez de usar a violência para controlar as massas, disciplina tanto os desejos quanto a imaginação das massas de modo a que elas possam controlar a si mesmas (Foucault).
A sugestão de que o desejo possa ser manipulado vai contra a ideologia dominante da teologia do neoliberalismo, que afirma que o desejo é uma força encontrada no interior das pessoas, inteiramente livre de influência externas. Em conformidade com isso, o neoliberalismo alega que, em vez de disciplinar o nosso desejo, o que faz é nos prover de uma sociedade em que somos livres para perseguir qualquer desejo que seja [de forma inerente] nosso. Uma análise mais profunda, no entanto, revela que essa é uma falsa ideologia imposta por aqueles que deliberadamente manipulam o desejo, e sustentam sua habilidade de manipular o desejo precisamente proclamando que o desejo é livre.
Para começar, o neoliberalismo manipula o desejo colocando na raiz do desejo a noção de privação/escassez. Nesse sentido, vale observar a aliança existente entre o liberalismo econômico e a moderna psicanálise (a qual, vale lembrar, nasceu do capitalismo): enquanto o capitalismo nos fundamentou num mundo definido por escassez, a psicanálise expandiu essa noção colocando a privação dentro da própria psiquê. Sigmund Freud deu início a esse processo com suas reflexões sobre desejo (ou seja, libido), em que a carência é a existência edipiana por excelência; a psicanálise, embora tenha se distanciado de Freud, continua a operar segundo a noção dessa carência interna essencial1.
Não apenas o desejo é definido pela privação; o neoliberalismo também apresenta o desejo como insaciável, precisamente porque – como a economia de mercado nos faz lembrar continuamente – existe sempre algo de que estamos desprovidos. Em particular, existe sempre algo de que estamos desprovidos em comparação a outra pessoa, e dessa forma a privação se torna parte de um processo interminável de competição com o próximo2.
Isto, por sua vez, conduz ao segundo ponto: o modo em que o desejo é disciplinado ao ser enraizado no interesse próprio3. Aqui o desejo é reduzido ao grito infantil de “eu quero, eu quero, eu quero” e “me dá, me dá, me dá”. Uma economia impelida por interesse próprio, no entanto, é uma economia impelida pela ganância4. O resultado é “a institucionalização da inveja” e a onipresença da cobiça5. Da mesma forma, nada disso é surpresa quando se entende o neoliberalismo como uma forma de paganismo, pois, de acordo com Paulo, a cobiça foi o pecado primal de Adão e é o emblema da humanidade adâmica6. Isso explica, além de tudo, tanto a competitividade quanto a parcialidade inerentes ao capitalismo, pois, como também observa Paulo, a cobiça se expressa em espírito de divisão e conduz de modo natural à violência7.
Em terceiro lugar, o desejo tem também sido condicionado porque tem sido alinhado à noção de merecimento: o indivíduo tem direito adquirido àquilo que deseja. Isso torna-se especialmente evidente no modo pelo qual o discurso dos “direitos humanos” foi sequestrado pelos ricos e poderosos e usado como meio de sustentar sua riqueza e seu poder8. O discurso dos “direitos humanos” tornou-se desculpa para justificar a busca pelo que se deseja sem qualquer consideração com os outros. Em consequência, “igualdade” tornou-se função de “desigualdade”9.
Dessa forma, ao fundamentar o desejo numa carência insaciável, ao reduzi-lo a ganância (inveja e cobiça) e ao alinhá-lo à noção de direitos adquiridos, o neoliberalismo produz uma forma de desejo que é completamente condicionada. O resultado é o inverso da noção platônica tradicional do corpo como prisão da alma. Quando o desejo é dessa forma condicionado, a alma é que torna-se a prisão do corpo10. Essa, ainda, é uma forma disciplinada de desejo que se torna radicalmente alienada. Como argumenta Zizek11:
O famoso truísmo de Jenny Holzer, “protege-me daquilo que desejo” pode ser lido como referência irônica à sabedoria convencional masculina-chauvinista que afirma que uma mulher deixada a seus próprios recursos se verá absorvida por uma fúria autodestrutiva, ou pode ser lido de modo mais radical, como apontando para o fato de que na sociedade patriarcal contemporânea o desejo da mulher é radicalmente alienado: ela deseja o que os homens esperam que ela deseje, desejos que são desejados por homens [...] “Aquilo que quero” já foi imposto sobre mim pela ordem patriarcal que me diz o que devo desejar.
Tendo coberto o desejo, resta analisar os modos pelos quais o neoliberalismo disciplina nossa imaginação. Basicamente, ele o faz empregando a retórica da independência, da segurança e da responsabilidade, a fim de mascarar o modo como condiciona nossa imaginação (individual e coletiva) através de medo e desespero.
O neoliberalismo glorifica o indivíduo autônomo e define maturidade e sucesso pela capacidade de se viver de modo independente dos outros. Há, no entanto, uma grande dose de medo subjacente a essa apresentação. Quando a sociedade é dominada por indivíduos interessados apenas em si mesmos, restam poucas razões para uma pessoa cuidar de outra; o indivíduo é impelido em direção à independência porque, no fim das contas, não pode contar com quer que seja. Além disso, como o mundo é definido pela escassez, e como há tamanha disparidade dentro do sistema, passamos a temer o outro que irá tentar tirar aquilo que é meu e ele não tem. Diante disso o que o indivíduo faz é retrair-se e acumular bens, não apenas porque não pode contar com o outro, mas porque tem medo de perder o pouco que tem (quer por via de um desastre que leve minha casa, de um imigrante que leve o meu emprego, de um drogado que leve minha carteira ou de um terrorista que me leve a vida).
Porém, ao invés de dizer que é o medo que nos impele à independência, o discurso de “responsabilidade” é usado para justificar esse modo de vida. Conforme documentado por Max Weber e H. Tawney, associar independência econômica a responsabilidade está muito enraizado nas tradições puritanas e reformadas, e isso provê ao neoliberalismo uma fundação que vê a responsabilidade como virtuosa ao invés de fonte de temor12. Porém o que tem sido negligenciado é que o discurso da “mordomia” executa precisamente a mesma função dentro de grande parte da cristandade contemporânea. A ideia de “mordomia” provê agora os cristãos com um verniz religioso que justifica um modo de vida fundamentado no temor13. Cabe lembrar, então, as palavras de Eduardo Galeano: “O demônio do medo se disfarça a fim de nos enganar. O enganador oferece covardia como se fosse prudência e traição como se fosse realismo”14.
O outro meio pelo qual o neoliberalismo condiciona a imaginação é através do desespero. Precisamente porque nos apresenta uma teologia consumada, não nos resta esperança alguma. Não há escapatória e não há alternativapossível porque, a priori, não há alternativa imaginável. O capitalismo torna-se, assim, “o partido do desespero contrarevolucionário”.
Daniel Oudshoorn

fonte: as seleções sempre avassaladoras de Paulo Brabo em:  A Bacia das Almas.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Corporação.

Certa vez ouvi uma frase espetacular:


"Quando a realidade parece ficção é hora de fazer documentários"
E o que venho fazer aqui é uma indicação, aquelas indicações de amigo. Um professor de economia indicou a nossa turma ver um documentário de título "The Corporation", enquanto falava sobre riqueza, lucro, enfim, sobre o capitalismo em si.

E para minha surpresa, esse documentário está disponível completo no youtube, legendado, em 24 partes.


Como eu sei que a maioria de vocês não vai ver o documentário todo, vou deixar a primeira parte como amostra para, talvez, instigar os que precisam.







É tudo verdade.


Só pra dar um incentivo, transcreverei um trecho que está numa parte mais a frente, que eu não vou dizer qual pra te forçar a procurar! rsrs... enfim:


"Serei honesto com você, quando o atentado do onze de setembro aconteceu... eu não sabia [risos] quer dizer, não quero pensar nisso de modo leviano, não é algo leviano, é um ato devastador, era realmente algo muito ruim, uma das piores coisas que já vi na minha vida... MAS o que lhe diremos, eu e todo negociante e quem comprava ouro, e possuía ouro ou prata quando aquilo aconteceu é que o 1° pensamento foi: quanto o ouro subiu? O primeiro pensamento foi: Meu Deus, o ouro deve ter explodido (super-valorizado)! Felizmente nossos clientes tinham investido em ouro. Quando ele subiu, eles dobraram seus recursos. Todos dobraram. Foi uma benção disfarçada. Devastador, destruidor, horrível, mas pelo lado financeiro, meus clientes que estavam no mercado lucraram muito. Eu não procurava esse tipo de ajuda, mas aconteceu. Quando os EUA bombardearam o Iraque em 1991, o preço do petróleo subiu de US$13,00 para US$40 o barril, pelo amor de Deus! Mal podíamos esperar para as bombas caírem logo no Saddam Hussein. Estávamos entusiasmados, queríamos que ele criasse problemas. Faça o que for preciso, incendeie mais poços, os preços subirão. Todo negociante comemorava aquilo. Não havia um comerciante que não estivesse entusiasmado. Aquilo era um desastre. Uma catástrofe, bombas, guerras. NA DEVASTAÇÃO HÁ OPORTUNIDADE."
Entre parênteses estão observações minhas, e as partes em letras maiúsculas marcam onde a pessoa fala mais alto.