domingo, 25 de maio de 2008

olhos cansados





Acostumado a ver o mundo
ver as pessoas,
as paisagens e as cores
ver a chuva chegar,
e esperar pela bonança
e tomar cuidado
para não pisar na lama.

Descobri que podia escrever
me disseram que poderia ser um poeta
viram em mim o tal potencial
instigaram o adormecido gigante
de idéias e lirismos
acordes e melodias.

cometeram porém, o velho erro
de não medir nem ponderar o que se fala
não esperavam que tão ínfima semente
em solo tão improvável
desse uma árvore dessas
e viesse um dia fugir do seu controle.

Sinto medo dos machados e moto-serras
constantemente ouço seus roncos
em fúria a me ameaçar
cada vez que me esgueiro
e insisto em abrir os meus galhos
procurando a luz...
mais luz...

Uma represa quase a estourar
ainda não achei o botão
o que serve para destravar
tudo que aqui dentro pressiona
e em conta-gotas vem a tona.

Acho que preciso me consultar
o que há comigo afinal?
um poeta sem motivos
ou ispiração e que mal
entende o que lhe cause esse desgaste.

um idealista falando o previsível,
argumentando o nada... e perdendo.
quem daria crédito a minha pregação?

Visitei a Doutora.
Nada ela precisou falar.
Seus olhos disseram tudo
tudo o que antes não fora por ninguém diagnosticado
estava ali

esse tempo todo
eu via o mundo
pores do sol tão belos,
no horizonte a me presentear.
os pássaros e as nuvens,
as pessoas que passavam,
que ficavam, que mentiam
ou pouca coisa falavam.
Sempre via o mundo
Nunca parei para lê-lo.

Um poeta não é aquele que melhor escreve o que le;
é o que melhor leu aquilo que está escrevendo.

Estou aprendendo a ler...
e achei melhor me ler primeiro...

obrigado Doutora.
estes olhos cansados
hoje lhe agradecem.

a poesia achada
na singeleza do seu olhar,
os meus rejuvenesce.

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