quarta-feira, 30 de junho de 2010

Sobre Passarinhos e Porcos



Tudo que nos rodeia, e que serve como expressão humana, louva ao Senhor. Disso sabemos. A ciência e a arte são expressões da glória de Deus manifestada na terra por meio de nós homens, pois segundo Paulo é nele "Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência." Colossenses 2:3.
Disso sabemos, e dizemos, principalmente quando confrontados pelos que contestam a hamonia entre fé e razão, entre fé e ciência. As ciências em si são recortes, expressões parciais da glória do Criador. Recortes pois nenhuma delas consegue reunir, nem mesmo todo o conhecimento que nos é permitido ter acesso, pois é característico do conhecimento científico a divisão. Isso fica claro nas universidades. Ao se criar uma faculdade, Engenharia por exemplo, o que acontece é uma fragmentação dos conhecimentos, fazendo surgir várias "engenharias": mecânica, química, etc. Logo, entende-se que essa fragmentação é característico das ciências, e não só das ciências mas também das nossas conclusões acerca do mundo. E isso vai se modificar dependendo de cada pessoa, pois nós temos percepções diferentes acerca do mundo, das coisas. E cada um de nós, temos o domínio de uma determinada ''ciência'' tendo com isso, o modo que Deus nos deu para o louvar, honrando os talentos que Ele nos deu.
Um médico faz isso quando traz cura as pessoas. Um atuante na área do Direito, quando faz a Justiça acontecer. Um faxineiro quando serve, propiciando um ambiente agradável seja numa casa, escritório, igreja - e olha, se soubéssemos o quanto isso é importante...- Um professor, quando traz luz aos seus alunos, trazendo-lhes da caverna da ignorância à luz do etendimento [e da responsabilidade]. Fazendo manifestar na Terra a multiforme graça e sabedoria de Deus.
As artes não escapam a essa sina. Só que um pouquinho diferente, as artes, geralmente não tem a intenção de descobrir, antes de transmitir. Transmitir o quê? A vida, suas belezas, alegrias, tristezas, justiças, injustiças. Fazer refletir, ou não, simplesmente fazer-se. Por vezes a arte serve, não como pano de fundo, mas como capa, mostrando a síntese do pensamento, do comportamento da sociedade em que é contemporânea.
Entretanto, verifica-se um grave erro quando se trata da arte dita cristã, ou como é comum chamarmos hoje, gospel. O que fizemos foi limitá-la, maquiando-a para que se encaixasse em nossos padrões, para que pudéssemos, penso que por peso na consciêcia, rotulá-la como cristã. E por mais que venha logo a música em nossa mente, não só nela, mas na arte como um todo, há uma preocupação que se inverteu, não se preocupa-se com o conteúdo, na verdade a real preocupação é com a resultado, a preocupação é com a consequência, se vai "soar cristão". A consequência, por definição tem de vir, não pode [não deveria] ser fabricada, e quando fazemos isso, tornamos nossa arte pobre, de baixa qualidade mesmo.
Não é só no meio gospel que verifica-se tal comportamento. Essa preocupação com o resultado e que empobrece a arte é muito comum no meio não cristão. É só lembrar das bandinhas teen que vira e mexe estoura: NXzero, Jonas Brothers, etc. Bom, isso nada quer dizer, afinal, fazer só porque todos fazem, nunca foi uma desculpa aceitável. E, por isso, 90% do que consumimos como arte cristã pode facilmente ser classificado como ruim. É como ter um passarinho preso, e ter de contentar-se a ouvir tão somente seus cantos de lamúria, sem conhecer os cantos que só a liberdade pode liberar, a plenos pulmõezinhos alados.
A arte, por si mesma louva a de Deus quando fala do mundo, da natureza, das injustiças que vivemos, para que nos despertemos e lutemos contra elas; das alegrias e das tristezas, das amizades e das solidões, quando nos faz rir ou chorar, do amor, enfim, de nós mesmos. A arte é espelho. É.
Claro que é necessário um filtro para se consumir arte, mas além do filtro clichê que como cristãos já ouvimos bastante [mesmo uns sendo um tanto incoerentes], é necessário o filtro por nós esquecido da qualidade. Mas falo de qualidade artística. Pense: se unção é uma atuação do Espírito, não dá pra classificá-la, certo? O lance é que como artistas que levam o nome do Autor da criação temos uma responsabilidade, sim, com a qualidade no que fazemos. Precisamos ser seletivos, não se contentar com um zézinho qualquer, auto-entitulado "cheio de unção" que não canta nada, não toca nada, e não transmite nada. Infelizmente, por esse mesmo filtro, muita da arte produzida pelos filhos da luz está fadada ao cesto de lixo.

"Mastigar e digerir tudo - essa é uma maneira suína." [Zaratustra]

L'amore non si conclude mai

2 comentários:

... disse...

sabiá livre quando vai cantar da natureza?

gostei da fusão dos blogs...
assim percebo o quanto de vc ainda não li.
estou amando.

suspeito,não é mesmo?rs

Cerestino disse...

De jeito nenhum.

Ofuscados são os olhos de quem não ama.