quarta-feira, 28 de julho de 2010

Legião me salvou!

Já caia pesada aquela tarde quando André bateu em minha porta. Ao entrar, eu, como sempre, fico meio sem-graça, oferecendo um pão aqui, um café ali, sabendo que não era bem por isso que ele viera. E até que tem vindo muito. E entre conversas, confissões e gargalhadas, nossa amizade tem sido construída.

Ele ajeita a cabeleira indiscreta, eu deixo na sala um chorinho tocando alto. Chegando a varanda onde já tínhamos conversado um tanto, comento sobre a música alta: "ah, eles põe o funk deles alto pra caramba, porque eu não posso botar uma música boa alta?" indagava eu, numa lógica não muito politicamente-moralmente-correta. Mas não deixa de ser uma coisa interessante o porquê você provavelente nunca verá passar um carro tocando a plenos amplificadores: "Eu sei que vou te amar.. por toda minha vida eu vou te amar". Enquanto músicas de baixa qualidade sempre aparecem pra nós nos mais altos e incômodos volumes. - Eu ouvi dizer que, se chega a certa altura, você pára de perceber certas nuances da música. - Disse André.- Realmente, não há nuance alguma para ser percebida nesses funks da vida.
Tenho descoberto um novo tipo de talento para música: o talento para ouvir música. André está aprendendo música comigo. Mas é difícil encontrar um músico como ele. André tem um instrumento pouco popular, mas indispensabilíssimo: o ouvido. Há quem diga que o instrumento mais antigo é a voz. Entretanto, sem o instrumento dominado por André, nossos cantos ou não aconteceriam, ou seriam como os grunhidos tão ouvidos por nós nas rádios populares de hoje. 
- Mas tenho de confessar - disse André - eu já ouvi muita besteira. 
E rindo, me contou que Britney Spears, Beyoncè, e até Creu - É, cara, é uma vergonha, mas eu ouvia isso mesmo! - já passaram por seu mp3.
- Mas depois que eu comecei a ouvir Legião - André é um fã inveterado de Legião Urbana, o que se percebe mesmo no modo de dizer o nome da banda - Minha mente se abriu pra o que era música, e eu não conseguia mais ouvir as outras músicas que eu tinha no mp3. Eu sentia como se eu não pudesse mais ouvir esse tipo de música agora que ouvi Legião.


Nessa hora sorri. Ouvi seu depoimento com a felicidade de quem ouve o choro de um arrependido.


"eu era cego e agora vejo.” (João 9:25)


E o digo sem exageros. Creio, inclusive, que se não passarmos pelo mesmo processo de olhar pra Legião e considerar os funks, as Beyoncès e Cia. um lixo que são, não tendo maiscoragem de continuar ouvindo o que, por obsoleto, se desfaz; se não tivermos esse mesmo sentimento em relação a qualquer área da vida, antes e depois de Cristo, não nosconvertemos à Ele. João disse: "Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele."


E alguém pode achar estranho eu fazer essa comparação citando essas palavras, me referindo a uma banda "do mundo". Mas o mundo que Jesus combateu e denunciou e orou que o Pai nos livrasse (Jo 17) não era, definitivamente, o mundoque as igrejas evangélicas condenam e nos mandam afastar. E como isso daria já outro texto não falarei mais sobre.


Enfim, o testemunho de André marcará presença em minha mente, penso, por muitas épocas. Foi o tipo de coisa que me fez rir por dentro.


E daqui, do alto da minha vassoura, a quem me lê eu digo: Ouça boa música! Livre seus ouvidos da barulheira que se tornou o mercado musical, tanto envangélico quanto não-evangélico, acreditem, não há diferença de podridão qualitativa entre esses dois ramos do mercado, pois, sendo eles ramos, são de uma mesma árvore, e a árvore do mercado, em todas as suas implicações e abrangências, não pode produzir frutos para a vida.

Nenhum comentário: