terça-feira, 6 de julho de 2010

Porque me envergonho desse evangelho





Durante uma aula de atualidades:

- E como vocês sabem, não é mais algo longínquo a questão da escasses da água, e daqui há algum tempo as guerras girarão em torno da água e não mais, pelo menos nem tanto do petróleo.
- É professor, na bíblia já estava escrito isso já...
- Ah é, se não me engano é uma parte que diz que a terra não seria destruída mais com água, e sim com fogo não é?
- Ah, professor, não sei. Nem quero saber, não vou estar aqui mesmo. Já vou ter ido pro céu.

...

Eu sempre fui meio incrédulo de qualquer interpretação de fatos atuais como potencialmente apocalípticos por motivos simples:
1° Jesus que ninguém, repetindo, ninguém saberia o dia nem a hora.
2° As pistas que o Mestre dava acerca dos tempos do fim, foram muito bem pensadas para não cair em contradição com sua proposição de que o dia do juízo seria inesperado. Ele disse que os sinais seriam as guerras, tremores de terra, maremotos, pais contra filhos, filhos contra pais, etc. E se você parar para pensar, essas coisas sempre aconteceram na história da humanidade. Cristo então nos enganou? Não, só fez uma pegadinha digamos assim, pois dando tais elementos como provas do fim, ele deixou claro: NINGUÉM PODE SABER O DIA NEM A HORA. Afinal, medindo pelos prórpios meios que ele deixou, é impossível determinar uma data, seja ela qual for.
Por isso não levo fé em coisas como "essa nossa geração é a última geração" e coisas do tipo.
E essa mentalidade, tão difundida em tantas igrejas tem gerado em muitos cristãos algo repugnante para uma conduta que se diz cristã: indiferença. Observe o diálogo acima e note que não há a mínima preocupação com o outro, com as pessoas que ainda não estão na luz de Cristo. "O mundo vai acabar? Que se dane! O meu já tá garantido." E não venha me dizer que estou julgando a tal pessoa porque a bíblia me diz que a boca fala do que o coração está cheio. A constatação de uma possível danação de um outro ser humano não deveria gerar pelo menos uma tristeza, e assim uma ação em direção à pessoa para que o Espírito Santo possa mudar o fim para o qual ela está caminhando?
E isso não é a toa, afinal as músicas hoje estão literalmente ensinando a indiferença, (clique para ver um texto sobre a música "ainda bem" do Lázaro) juntamente com a alegria de ir pro céu! E não culpo o Lázaro por cantar essa besteira... com certeza a letra composta tem influencias seja de quem for. Ou não, quem vai saber?
O que quero confessar aqui é triste porém inevitável, e para mim inegável: eu me envergonho. Me envergonho desse evangelho que é pregado em tantos e tantos púlpitos, e tão aceito por tantos. Um evangelho que ensina o não amor, a não graça. Ensina a obedecer regras de santidade; a ofertar para receber de Deus a restituição; a orar, louvar e fazer atos proféticos pela restauração do país enquanto não se move uma palha, não se ensina a votar com consciência, nada!; a não se preocupar com causas ambientais ou com os problemas do efeito estufa ou qualquer coisa do tipo, porque o mundo vai acabar mesmo; que ensina a ficar feliz e contente por que apesar de "roma estar pegando fogo", eu vou morar no céu; que tem ensinado, enfim, a indiferença, a barganha, o fatalismo e uma metodologia religiosa.
Até quando os cristãos vão continuar acreditando que quando Jesus orou para que a vontade de Deus seja feita na terra como é feita no céu, significa que ele quer que anjos nos visitem em todos os cultos, e nesses aconteçam curas milagrosas, pessoas caiam e se chacoalhem no chão, enfim que os cultos sejam mais "de fogo"? E que quando Paulo diz que o Reino de Deus não é comida nem bebida mas sim paz, justiça e alegria ele quer dizer que nós devemos orar ardentemente pela Justiça? E ainda é comum encontrar pessoas que digam coisas como "polícia militar... política, essas coisas não são empregos pra um crente. Tem muita corrupção". Poxa, não era pra gente ser sal? "Ah, mas se vc não se corromper, eles te matam" Ah sim, então nós lemos sobre os mártires e os cristãos perseguidos e achamos tudo lindo, maravilhoso e extravagante, mas ser perseguido ou até morto por ser honesto no seu trabalho não...
Nós somos o corpo de Cristo. Isso quer dizer que quando Deus escolheu a nós para agir na terra. Nós somos os que vão fazer acontecer a Justiça de Deus, nós é que vamos amar o próximo, nós é que devemos consolar. Não porque somos bons, porque não somos, mas pelo simples, desacreditado e maravilhoso fato de que Cristo vive em nós.
E é por isso que me envergonho desse evangelho que vejo. Não dO Evangelho, não de Cristo.

E ao mesmo tempo é motivo de alegria destacar que, apesar de tudo o Espírito Santo é suficientemente poderoso para continuar a salvar pessoas.

Mas nas palavras de Brennan Manning: "O deus que me apresentam em quase todas as igrejas que visito é pequeno demais pra mim."

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