sexta-feira, 30 de julho de 2010

Os Pedaços de Carne, Três Meninos Gordinhos, Os Sistemas, e o Reino de Deus.

texto postado em 08/06/10
Ainda estou com o gosto de café na boca. Epifania tem gosto de sensatez.

Entendi coisas que com certeza não serão transmitidas a quem estiver me lendo. Nem eu mesmo alcancei tudo o que agora pouco percebi. Mas de fato, as coisas mais complexas com as quais nos deparamos a níveis mundiais e históricos, para mentes simples e atentas, são reveladas no cotidiano.

Aqui em casa há, geralmente um clima agradável. Quem nos conhece e freqüenta nossa casa sabe que não fingimos risos e brincadeiras. Nem quando elas enchem o saco. Enfim, apesar da habitualidade de um clima leve, há certas coisas que tiram todos do sério. Uma delas é na hora das refeições em que há necessidade de repartição. Claro, ninguém vê problemas em dividir arroz, feijão, macarrão às vezes, mas sempre há uma tensão na hora de dividir as carnes. Não é raro ouvir no almoço "quantos pedaços são para cada um?". E de um tempo pra cá isso tem me irritado.

"Para de perguntar isso! Pega o que você acha que deve! Caramba, que mania!". Não raro tenho proferido essa frase em meio aos almoços. Porém dá para entender a mania. Relembrando rapidamente de alguns domingos, quando todos nós almoçamos juntos, e quando geralmente o almoço é comprado, e na hora de dividir as marmitas, como têm-se direito a duas carnes por marmita e não pegamos uma para cada, no fim há oito pedaços carnes para pessoas. E o que era feito? meu pai pegava todas as carnes, separava num prato e dizia: "agora vamos dividir".

É óbvio. O Socialismo foi implantado. Ninguém foi consultado para a divisão. Tudo bem, é um Socialismo bem camarada (sem trocadilho) por que a gente podia escolher a carne que a gente quisesse. O que se pensou foi, inclusive lógico: se deixarmos esses meninos decidirem o quanto querem pegar, não vai sobrar nada pra ninguém. E sobre essa bandeira vivemos desde a mais tenra idade, quando ficou evidente nossa afeição pelos bifes e afins. É para o nosso próprio bem, temos que aprender a dividir, isso vai ajudar a quebrar o egoísmo de vocês, justificavam, inaudíveis, nossos preocupados pais hobesianos.

Contudo nenhuma vigilância é capaz de deter um humano impelido à clandestinidade. Podem nos filmar, nos gravar, implantar chips. Haverá gandíssimo progresso. Mas o sistema só é gigantesco, não é onipresente nem onipotente. Digo isso pois hoje, um de meus irmãos ao se preparar para sair, quando me viu chegando com um saco de pães e mortadela, comemorou. Quando virei-me para a pia a procurar as coisas para fazer café, o vi subindo as escadas com um pão com mortadela já preparado e semi-ingerido.

Quando acabei de fazer o café ele já tinha comido outros dois. Conclusão, ele comeu demais, e alguém ficará sem comer o que seria justo.

Eis aí a síntese do fundamento propulsor de nosso atual e [quiçá] decadente sistema Capitalista. Para que os ricos existam, é preciso haver pobres. Para que alguém tenha muito, muitos não terão o suficiente. A cada rico [que hoje engloba grande parte da chamada "classe média"]. Fatalismo? Pessimismo? Sensacionalismo? Não! Lógica! Porquê lógica? porque como os pães que trouxe do mercado não cresceram depois de meu irmão comê-los, os recursos de nosso planeta também não crescem. A riqueza do mundo, o mundo em si é esse e não há outro, os recursos não são renováveis. O único jeito de todos terem o que é seu é cada um dispor somente do que é seu. E isso não por temor à tutela de um Estado qualquer. Pois o temor é menos forte que o querer.

Então, haverá saída?

Hoje percebi que sim.

Ao falar sobre o Reino de Deus, Jesus disse que "Nem dirão: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo ali; porque eis que o reino de Deus está entre vós". Qualquer sistema, forma de governo, modelo econômico que posso ser criado, seguido ou imposto, será bom e ruim, não será de todo seguido, e definitivamente não atenderá os problemas da humanidade. E isso por um fato simples, todo sistema é externo. E é exatamente aí que se difere diametralmente tudo que há neste mundo, em qualquer era, com o que nos foi revelado pelo Filho. O Reino de Deus nasce dentro do homens. Nesse Reino nenhum pedaço de carne será comido a mais nem a menos. Não haverão ricos ou pobres. Ninguém precisará ser o repartidor das marmitas. E ninguém se submeterá por medo, tão somente seremos movidos pelo amor, aperfeiçoado.

Amém.

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