domingo, 18 de julho de 2010

O Evangelho, o Amor e a Lâmina.

Comecei a ler o Evangelho de João.
A beleza poética e tácita é de uma beleza perfumada. João expressa o seu conhecimento do Mestre da forma mais bela, abstrata e profunda do que todos os outros evangelistas. Sendo o único discípulo a ficar com Cristo mesmo na sua ressureição, e também o único dos apóstolos a morrer de causas naturais, João tem a fama de apóstolo do amor, tendo sido reconhecido por ser o que mais se aproximou do caráter do Mestre. 
O modo como ele fala do Verbo que estava com Deus, era Deus, se fez carne e habitou entre nós, e de como os homens não creram nem conheceram a Luz. E no meio dessa leitura se manifestou em meu corpo o caráter cortante da Palavra de Deus.
Após falar com a mulher samaritana, toda a cidade vem ter com Jesus. Neste momento ele profere as sentenças que esta tarde dilaceraram meu coração:"Não dizeis vós que ainda há quatro meses para que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os vosso olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa."
Jesus vivia [e vive] o hoje. Para Cristo, só existia a oportunidade de agora, "no tempo que se chama hoje" fazer o que agora temos em mão. E nesse agora - longe de ser passivo -, convoca para uma atitude imediata e uma iniciativa de minha parte.

Eis o momento em que a lâmina entra em contato com meus nervos e tendões.

Como na época que era criança, comecei a me injuriar pois, olhando a ordem de Cristo, as ordens firmes e insuportavelmente amorosas de Cristo, só consigo ver diante de mim, minha pungente incapacidade de cumprí-la.

Não tenho a intrepidez  dos apóstolos, de Cristo, de contemporâneos como Caio Fábio. A facilidade que encontro neles me faz sentir um incômodo impulsionador/atormentador. Mas em meu coração arde tão fervorosamente o desejo de explodir em Palavra e Poder, ao mesmo tempo que o comodismo parece ser uma tendência natural minha.

Como disse uma amiga, sou "uma represa prestes a explodir..." 

Hoje, aos 21 anos, penso que esse "prestes" está por muito se estendendo. Tenho profundo temor de me achar fora do tempo por, de tanto "prestes", não mais prestar.


Um comentário:

Cecília Marcelino disse...

"Tenho profundo temor de me achar fora do tempo por, de tanto 'prestes', não mais prestar".

O texto é ótimo, mas essa frase foi a que mais tocou. Mesmo sem ritmo e melodia, sei que tocou.